quarta-feira, 11 de maio de 2011

Primeiro

Oi, Diário,

Você vai chamar diário mesmo. Não pensei num nome melhor. Até porque mesmo se tivesse pensado, não falaria pelo único e exclusivo motivo de não querer dizer.

É, Diário, eu sou muito burra.
Eu decidi te criar só agora por falta de tempo. Falta de tempo e fé de que a agenda que eu comprei renderia bons textos. Não rendeu.
Agenda é difícil, tem pouco espaço. Ela ficou mais de porta papéis importantes. Importantes para mim, é claro.

Hoje, sendo o dia que é, marca eu acho mais ou menos o meio do meu intercâmbio.

Quanta coisa eu já passei.
Quantas pessoas já passaram.

Acho que esse post de hoje pode ser uma retrospectiva, o que você acha?
É. Posso dar uma recapitulada nas coisas que aconteceram, mas assim bem por cima. Para eu não cansar e nem você.
Acho que preciso fazer isso, sabe? Porque depois quando eu estiver no Brasil, a primeira coisa que eu vou fazer (quando eu não tiver nada para fazer, obviamente) é ir para o primeiro texto para lembrar de como você nasceu.
E ai não vou só lembrar da vontade que tive, mas também do que eu senti.

Vamos lá.

Hoje eu moro na Pitfold Road, 12 em Lee. Bairro perto da escola. Aqui é muito bom, moro com a Geraldine e com a Sasha, venezuelana gente boníssima que tem encrenca com o Chávez. A Geraldine é um anjo. Toca piano, cuida do jardim e da Treasure, a nossa gata preta.
A Treasure é uma gata muito da folgada que gosta de entrar no meu quarto, subir na minha cama, pisar no meu computador e comer a minha Pringles. Desde o início a Geraldine me disse que teria que ter cuidado com ela quando se trata de ataque a latas de Pringles. A Treasure gosta de queijo também. Odeio suco de laranja e a porta do forno/fogão. Ela come uma comida que parece patê de atum e eu morro de vontade de provar. O Ale, amigo de São Paulo, disse que não teria problema tentar. Eu não acredito.
Mas antes de morar aqui, Diário, eu passei por bons perregues. Na verdade, um só. Que graças a Deus teve início e fim (o meio eu prefiro nem lembrar). O pesadelo tinha nome(s) e endereço. Eu morei por um mês na Penerley Road, 39 em Catford. A única coisa boa que tinha lá era o night bus, que me deixava bem perto de casa depois da noitada. De ruim, não cabem nas mãos. Eu morava com cinco pessoas: Mary, Henry, George, velhinho (que eu já esqueci o nome) e o José (intercambista como eu, mas nascido no México). A Mary era bem louca. Além de não cozinhar muito bem ela reduzia nossa dieta à ervilha, batata e ervilha e batata. Como se não bastasse esse vasto cardápio, ela ainda colocava uma miséria. Ela nunca me fez nada, mas fez muitas coisas ruins contra o José e eu resolvi pular fora também por causa disso. O Henry, era o host-brother de 20 anos, ele calçava 47, altérrimo e magro também. Ele fumava muita maconha e a Mary ficava aos berros com o Gleid pela casa. O Simon (era o velho, acabei de lembrar o nome), era uma mosca morta coitado. Velhinho mesmo, não saia da cadeira de balanço e ficava vendo TV o dia todo. Só ouvia a voz dele quando ligava avisando que não ia jantar e ele atendia. Eu nunca entendi muito bem essa família. Desestruturada, a Mary toda bonitona e o Simon nas últimas. Eu não sei viu, pode ser droga, pode não ser. Eles eram uma família de músicos, então acredito que eram todos meio "porra loca". Voltando ao Henry, além de fumar muita maconha, ele fazia festinha com os amigos loucos umas 2 vezes por semana. Acho que aquilo era um tipo de ensaio, não sei. O George vivia no quarto, fumando ou transando. O José já ouviu e sentiu ambas as coisas. Eu não gosto muito de lembrar daquela família. A cozinha tinha umas macumbas. Não gosto mesmo. Eles eram loucos.
Depois que sai de lá, fui para casa da Isabela que deixou Londres no dia que eu mudei para lá (Baring Road, 125 - Lee). A família era uma delícia. A Anne, host-mom, era um anjo e sempre me perguntava como eu estava. Fazia comida gostosas e colocava tanto, mas tanto no prato, que nenhum dia eu consegui terminar. Foi uma fase boa. Fase de pegar o ônibus no ponto do outro lado da rua. Fase de dançar Zeca Pagodinho sozinha no quarto e ouvir comentários como "Essa menina tá sempre cantando". Eu fui feliz lá. Mas a liberdade que eu tava buscando num intercâmbio ainda não tinha encontrado lá. Eu não podia cozinhar. Era, querendo ou não, como uma estranha invadindo a rotina de uma família. Eu nunca gostei disso. Corria risco de chegar bêbada de manhã e encontrar o host-dad (que eu não lembro o nome) tomando café, sabe? Isso não é legal. Porque não é a minha família, eles não me conheciam e podiam pensar muitas coisas ruins ao meu respeito. Eu nunca gostei de me explicar. Faço isso com meus pais do Brasil, com o meu namorado. Agora dar satisfação ou qualquer coisa do gênero para host-parents, não faz para mim o menor sentido!
Por isso e por não estar esbanjando dinheiro por ai, resolvi mudar de host-family para um flat ou para a Pent Land House (um pensionato em Lee Green, que mudo em junho).
As experiências a procura de um flat foram impagáveis. Passando por uma maria sapatão chamada Isabel, até uma mulher louca que tentou me alojar numa host-family colombiana com um quarto sem móveis. Por isso eu aconselho agora: não procure flats nos anúncios da Eurocentres Lee Green.
No tempo que eu fiquei procurando o flat, estava morando aqui com a Sasha. O quarto dela é imenso e pude ficar com uma das camas por uns 5 dias. No tempo que fiquei aqui, a Geraldine disse que uma amiga dela estava livrando o outro quarto. Me ofereceu o lugar e eu NÃO pude deixar de aceitar.

Essa é mais ou menos uma retrospectiva das mudanças importantes que aconteceram por aqui.
Além de mudanças, passei por destinos como Edimburgo, Dublin, Praga, Viena e Berlim. Aprendi muito e aprendo ainda com tudo que cada lugar fez comigo.

Agora ficarei durante dois meses por Londres. Economizando grana para a viagem em julho, me preparando para a chegada do André e curtindo a rotina gostosa que eu tenho por aqui.

É isso.
Até a próxima.

obs: Preciso falar de uma coisa importante. Uma não, duas. Hoje é aniversário do Humberto, garoto de Recife muito do metido e do simpático. Ele tem os defeitos dele, mas é bom e merece sem dúvida muitos anos de vida cheios de saúde e paz. Ontem o Bader recebeu um e-mail do reitor de Oxford falando sobre a sua aprovação no exame e sobre o início das suas aulas. Estamos felizes por ele, Diário, ele merece muito. Estudou muito para isso. Ontem comemoramos com todos os tipos de drinks esses dois fatos. E foi divertido. Muito divertido!

Um comentário:

Solange Braga disse...

E' menina MARCELLA... talvez a vida esteja dando uma porta para seu crescimento, como pessoa , o que eu e papai por culpa das circunstancias da vida e necessidade, como papis disse ontem somos muito relapsos com menina marcella,dei conta de cuidar de vc , acredito muito bem ate seu cursinho ...depois vc caiu de cara com a vida, vezes facil,hora muito dificil, onde vc so' vc tem que tomar decisoes,fico muito triste com isso e me sinto muito impotente as vezes muito fracassada, como mae , enfim a vida escolheu, a nossa familia para morar longe, cada um em um canto, muita festa, muita viagem, mas muito choro tbm , mas independe de nossas vontades , espero de coracao , que isto nao te afete posteriormente, tao nova e tao dona de si...minha formiga voou te amo e so' te desejo sempre que DEUS te proteja por onde vc anda um bjo TE AMO , E DEUS TE ABENCOE... DESCULPA POR MINHA AUSENCIA...BOA SORTE SEMPRE...MAMIS